DISPUTATIO - TÓPICO - TEMPORALIDADE


Com o desenvolvimento da ciência no século XVIII, as concepções de tempo em geral foram progressivamente sendo tomadas pelo campo da física, tanto que hoje o diálogo entre Bergson, Husserl, Boltzmann e Prigogine é não só perfeitamente possível como até mesmo obrigatório. Não se pode mais conceber que o tempo físico absoluto da ciência não seja determinante na concepção e existência em si do universo. É, porém, um tempo que acaba se confundindo com a temporalidade subjetiva, enquanto seja apreendido pelo ser humano.

Einstein demonstrou que, diferentemente da idéia de Newton, o tempo absoluto é também relativo. Sua teoria, de grandes implicações para a metafísica do tempo, é ainda apenas uma das correntes científicas atuais que revolucionaram sua definição. As outras, que veremos muito brevemente, são a física quântica, a termodinâmica e a teoria evolucionária de Darwin.

A Teoria da Evolução foi um marco fundamental no processo de formação da concepção atual de temporalidade. A idéia da origem humana passava até então pelo mito e pela transmissão de determinadas cosmogonias, nas quais o tempo mítico é nebuloso e cronologicamente pouco preciso. E isso é válido não só na Antigüidade pagã, pois a concepção da civilização cristã também foi baseada em uma idéia de tempo mítico. Somente a partir da Teoria da Evolução surge o conceito da origem humana como um longo e lento processo natural, mensurável a partir do método científico.

A revolução da física no século XX trouxe mais elementos para a questão. Em primeiro lugar, a Teoria Geral da Relatividade de certa forma destrói a idéia de tempo totalmente absoluto e independente, ainda que, para fins práticos de cálculo, a física newtoniana continue a ter valor para uma escala mediana de espaço. A física quântica surge como oposto de Einstein, na medida em que subverte a ordem e a lógica dos acontecimentos no plano molecular. Mas, principalmente a Segunda Lei da Termodinâmica se mostra como o elemento que restabelece e dá nova forma aos pontos principais do conceito de tempo.

Basicamente, essa lei prevê a liberação de energia, como entropia, em qualquer sistema dentro de um tempo linearmente considerado. A implicação básica disso é que, em primeiro lugar, o tempo é irreversível e que, portanto, sua flecha aponta sempre para o futuro – o que a Relatividade não consegue provar. Em segundo lugar, o que é uma conseqüência teórica, mas apenas conjectural, o tempo possivelmente terá um fim, quando toda a energia do universo for liberada e a entropia atingir seu nível máximo.

O aumento da entropia prevê que um sistema considerado, seja o universo, um corpo humano ou uma xícara de café, passe da ordem para o caos. O melhor exemplo disso é a teoria do Big Bang. Porém, a Teoria da Evolução diz que o universo progride, racionaliza-se e passa do caos para a ordem. Como podemos evitar a contradição? Provou-se que o caos na verdade tem uma tendência à ordem e que apresenta ciclos temporais, como no caso por exemplo do relógio químico. Se a flecha do tempo da termodinâmica é irreversível, ela engloba a existência de quaisquer processos cíclicos em toda parte do universo, ou seja, temos portanto que os dois planos fundamentais do tempo são essencialmente interdependentes. E assim, tanto o tempo da física quanto o psicológico, a temporalidade dos filósofos, se constituem em uma estrutura que é ao mesmo tempo linear e cíclica.

Voltemos à História. Também neste plano é possível encontrar a mesma conseqüência demonstrada acima sobre a natureza do tempo, de que ele se constitui em dois planos opostos, porém entrecruzados. Agora, retomando o uso do termo temporalidade, mais adequado à construção do discurso histórico, veremos como ele se apresenta na Antigüidade e como se dão as inter-relações entre seus diferentes sentidos.

Leia mais AQUI


Lembrando que este texto faz parte de um artigo cient[ifico completo chamado -

O conceito de temporalidade e sua aplicação na historiografia antiga da autora Juliana Bastos Marques

Pós-doutoranda-FFLCH/USP e bolsista da Fapesp



0 comentários:

Postar um comentário